Foto (de 1928): https://www.historiadealagoas.com.br/
ALOÍSIO MACHADO BEZERRA
(Aloísio Branco)
( 1909 – 1937 )
Nasceu em São Luís do Quitunde em 6 de janeiro de 1909 e faleceu prematuramente em Maceió, a 4 de fevereiro de 1937, aos 28 anos.
Aloísio Machado Bezerra, na vida literária — Aloísio Branco — foi uma robusta promessa e quase uma realidade nas letras do país. Dispersivo, devaneador, incontestado até de si mesmo, passou pela vida com um transeunte apressado, uma bólide sem meta.
Escreveu poesias, crônicas, discursos, mas como falava, estabanadamente, atropelando as ideias, citando a torto e a direito grandes mestres do pensamento, dos quais muitas vezes nunca lera um volume. Era, porém, um espírito iluminado, cheio de sonhos desmesurados para o meio onde vivia.
Fez preparatórios no Liceu Alagoano e no de Paraíba. Foi oficial de gabinete do Secretário Geral do Estado de Alagoas, colaborou no Jornal de Alagoas, Gazeta de Alagoas, A Província, do Recife, e Boletim de Ariel, do Rio.
Formou-se na Faculdade de Direito de Recife, em 1936.
|
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
POEMA EM LOUVOR DO TELEFONE
A tua voz vem, num passeio triste,
atravessando arrabaldes ingênuos e alegres...
através do tubo da rede telefônica.
É o voyage musical de tua voz. Amada,
ao país sem passado do meu amor tímido.
Eu tenho a fascinação idiota dos telefones:
o telefone é o criado platônico do meu amor.
Disciplina e espiritualiza os meus ímpetos idílicos.
Faz abstenção completa das tuas formas tentadoras.
Possui apenas uma intuição musical da Amada:
como se ela fosse um pássaro, um verso de Mallarmé
ou uma sonata de Schumann.
Pelo telefone eu amo a tua voz como se ama uma canção
longínqua:
a canção que a estas horas pode estar acalentando
a cabeça dum marinheiro bêbedo em Singapura.
Ou a música antiga dos realejos da infância,
dos realejos que pareciam o idioma natural
daqueles velhos domingos da província.
O telefone torna-me a tua voz longínqua no espaço e no tempo.
uma voz que eu ouvia castamente, de olhos fechados,
com o medo de descobrir o amor.
As mensagens afetivas dos teus telefonemas
obrigam o meu século mecanicista a uma cumplicidade
sentimental.
Depois, o telefone é bem amigo dos caprichos imaginativos
do meu amor:
quando eu estiver enjoado do teu corpo banal de jogadora
de tênis,
poderei então dar a tua voz, ausente do teu corpo real,
ao corpo mais lírico que eu achar no momento,
aquele corpinho delicado, por exemplo, que viveu, durante
muitas tarde de abril,
dentro de um ascético vestido de colegial de Sion,
onde os teus primeiros enternecimentos de mulher
quebravam, às vezes, o silêncio de tua carne virgem e
ignorante,
acariciada sem malícia pelo vento da montanha
Ou então pensarei que estou diante daquela adolescente
turística,
que desejava recolher em suas rosas secas
a alma de antigas primaveras de Paris.
É o telefone que te põe em estado de ubiquidade para o amor
e é ainda, através do telefone, que sinto capaz de sacrifícios,
obrigando a tua voz a essas caminhadas longas
pelos arrabaldes ingênuos e alegres.
O telefone liberta em confidência o meu amor
e me habita desde logo a querer-te como uma lembrança.
*
VEJA e LEIA outros poetas de ALAGOAS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/alagoas.html
Página publicada em junho de 2021
|